Saberes que Sustentam o Futuro - Sociobiodiversidade

 

Os conhecimentos tradicionais, acumulados por povos indígenas, quilombolas e comunidades extrativistas ao longo de gerações, são fundamentais para a preservação da sociobiodiversidade — a interação entre diversidade cultural e ecológica. Esses saberes, muitas vezes subestimados pela ciência convencional, oferecem soluções sustentáveis para desafios ambientais e alimentares, demonstrando que o desenvolvimento não precisa ser sinônimo de destruição.


Um exemplo emblemático é o uso de plantas medicinais pelos povos indígenas, como os Yanomami, que dominam o emprego de centenas de espécies para tratamento de doenças. Pesquisas científicas, inclusive da Fiocruz, comprovam a eficácia de muitas dessas práticas, revelando como o diálogo entre saberes tradicionais e ciência pode gerar avanços. O etnobotânico Darrell Posey já afirmava que "a biodiversidade não existe sem a diversidade cultural", pois são os povos tradicionais que, ao manejar os ecossistemas de forma sustentável, mantêm florestas em pé.

Além disso, a sociobiodiversidade sustenta economias locais. Na Amazônia, o extrativismo da castanha-do-pará e do açaí, realizado por comunidades ribeirinhas, movimenta milhões de reais sem devastar o bioma. Projetos como o "Arranjos Produtivos Locais", apoiados pelo governo federal, mostram que é possível conciliar geração de renda e conservação. 

Contudo, a biopirataria — a apropriação ilegal desses conhecimentos por empresas — ainda é uma ameaça, como ocorreu com o cupuaçu, que teve sua patente registrada no exterior. A filósofa Vandana Shiva tem um pensamento que é um alerta: "Quando os saberes tradicionais são roubados, perde-se não só cultura, mas também o futuro da biodiversidade".

Para valorizar esses conhecimentos, é essencial fortalecer políticas de proteção, como a Lei de Biodiversidade (13.123/2015), que exige o consentimento das comunidades para uso de seus saberes. Educação também é chave: incluir no currículo escolar a história e as técnicas desses povos, como propõe a BNCC, ajuda a combater preconceitos e disseminar práticas sustentáveis.

Em síntese, os conhecimentos tradicionais são patrimônios vivos que garantem a resiliência socioambiental. Protegê-los não é apenas uma questão de justiça histórica, mas uma estratégia urgente para enfrentar crises climáticas. Como ensinam os povos originários: "A terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra".

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