A ideia de que os cristãos brasileiros devem apoiar a extrema direita conservadora sob a alegação de que essa vertente política defenderia os valores de Cristo é, no mínimo, uma grande ilusão. Historicamente, movimentos políticos conservadores e autoritários frequentemente instrumentalizam a religião para justificar agendas que pouco têm a ver com os princípios fundamentais do cristianismo, como o amor ao próximo, a justiça social e a compaixão pelos mais vulneráveis.
Vale lembrar que a Igreja Católica, em diversos momentos da história, esteve associada a práticas que contradizem frontalmente os ensinamentos de Jesus, como a Santa Inquisição, que perseguiu e torturou em nome da fé, as Cruzadas, que promoveram violência e dominação, e a legitimação da escravidão, que animalizou seres humanos e perpetuou séculos de opressão. Esses episódios não refletem os valores cristãos genuínos, mas sim a manipulação da religião para fins de poder e controle.
Portanto, é crucial discernir entre a fé autêntica e a sua apropriação por grupos políticos que buscam manter estruturas de dominação e exclusão. Como bem destacou o teólogo Leonardo Boff, "a fé sem justiça é uma farsa". Apoiar uma agenda política que desrespeita os direitos humanos, marginaliza minorias e promove o ódio é, de fato, uma contradição aos ensinamentos de Cristo, que pregou o amor incondicional e a defesa dos mais fracos.
Em vez de se aliar a projetos que distorcem a mensagem cristã, os cristãos brasileiros poderiam buscar inspiração em figuras como Dom Hélder Câmara, que lutou pela justiça social e pelos direitos dos oprimidos, ou em movimentos como a Teologia da Libertação, que coloca os pobres e marginalizados no centro da prática cristã. Afinal, como dizia Dom Hélder, "quando dou comida aos pobres, me chamam de santo; quando pergunto por que eles são pobres, me chamam de comunista". A verdadeira defesa dos valores de Cristo exige, acima de tudo, um compromisso com a justiça, a igualdade e a dignidade humana.
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